Família e escola por um mundo de paz

Família e escola por um mundo de paz

Agressividade e violência são temas que estão cada vez mais presentes em nossa sociedade, seja nos
noticiários, na nossa sociedade, comunidade, entre “amigos”, famílias. Elas não escolhem um alvo. Todos
são alvos possíveis. Nesse contexto, vêm a seguintes perguntas: o que fazer, como pais e educadores para
tentar reverter e/ou minimizar essa (triste) situação? Podemos fazer alguma coisa? Conseguiremos
encontrar uma solução? De quem é a culpa? Existem culpados? Ou todos são vítimas? Como sair dessa?

É sem dúvida necessária uma postura compartilhada da família e da escola, investindo na prevenção.

A força dos pais está em transmitir aos filhos a diferença entre o que é aceitável ou não, adequado ou não,
entre o que é essencial e supérfluo, e assim por diante. Pedir um brinquedo é aceitável, mas quebrar o
brinquedo meia hora depois de ganha-lo e pedir outro é inaceitável. É importante estabelecer limites bem
cedo e de maneira bastante clara porque, mais tarde, será preciso dizer ao adolescente de quinze anos que
sair para dar uma volta com o carro do pai não é permitido, e ponto final. Muitas vezes, a ausência de
limites, instituídas na educação familiar por pais demasiadamente tolerantes, fecunda consequências
desastrosas, produzindo crianças indisciplinadas, agressivas, insolentes e que vivem conflitos internos
demonstrando insegurança em tudo o que realizam.

Na escola, por sua vez, a indisciplina e a agressividade constituem um desafio para os docentes e
representam um dos principais obstáculos ao trabalho pedagógico. Pretende-se que a escola funcione
através de espaços e tempos, com critérios adequados à participação e ao diálogo entre os alunos e destes
com os professores. Neste espaço, o problema deve ser contextualizado, analisado e ações alternativas
devem ser pensadas e colocadas em prática. Ora, o estudo é essencial; portanto, os filhos têm obrigação
de estudar. Caso não o façam, terão sempre que arcar com as consequências de sua indisciplina, que
deverão ser previamente estabelecidas pelos pais. Só poderão brincar depois de estudar, por exemplo. No que é essencial, os pais deverão dedicar mais tempo para acompanhar de perto se o combinado está sendo
levado em consideração. Os filhos precisam entender que têm a responsabilidade de estudar e que seus
pais os estão ajudando a cumprir um dever que faz parte da vida.

No caminho através de gerações, muito se perdeu em termos de autoridade. É preciso recuperar a
autoridade fisiológica, o que não significa ser autoritário, cheio de desmandos, injustiças e inadequações.
Autoridade é algo natural e que deve existir sem descargas de adrenalina, seja para se impor, seja para se
submeter, pois é reconhecida espontaneamente por ambas as partes. Desse modo, o relacionamento
desenvolve-se sem atropelos. O autoritarismo, ao contrário, é uma imposição que não respeita as
características alheias, provocando submissão e mal-estar tanto na adrenalina daquele que impõe quanto
na depressão daquele que se submete.

Nessa entrevista para o Delas, o saudoso médico psiquiatra Içami Tiba responde a perguntas sobre
educação, responsabilidade, disciplina e agressividade e convoca a família, a escola e a comunidade juntas,
a repensarem as práticas que poderão trazer uma nova luz ao desenvolvimento pleno e saudável das
crianças, adolescentes e jovens.

Boa leitura.

Qual a responsabilidade dos pais e qual a dos educadores na educação das crianças?  A família continua sendo a principal responsável pela educação de valores, mas é importante que haja uma parceria na
educação pedagógica. Pais precisam ser parceiros dos professores. Quem tem que liderar a parceria, no
começo, é a escola, pois tem um programa mais organizado. Com a parceria, ambos ficam fortes. Os pais
ficam mais fortes quando orientados pela escola.

O que é mais importante na educação de uma criança?  É exigir que ela faça o que é necessário. Os pais
dão tudo e depois castigam os filhos porque estes fazem coisas erradas. Mas não é culpa dos filhos. Afinal,
eles não querem estudar porque estudar é uma coisa chata, mas alguma vez ele fez algo que é chato em
casa? No final, a criança estica na escola aquilo que aprendeu em casa. A educação é um projeto de formar
uma pessoa com autonomia comportamental, responsabilidade social e independência financeira.

Como os pais podem educar bem seus filhos? Qual o segredo? Um pai de verdade é aquele que aplica em
casa a cidadania familiar. Ou seja, ninguém em casa pode fazer aquilo que não se pode fazer na sociedade.
Os pais devem começar a fazer em casa o que se faz fora dela. E, para aprender, as crianças precisam fazer,
não adianta só ouvir. Elas estão cansadas de ouvir. Muitas vezes nem prestam atenção na hora da bronca,
não há educação nesse momento. É preciso impor a obrigação de que o filho faça, isso cria a noção de que
ele tem que participar da vida comunitária chamada família.

Por que você acha que alguns pais não ensinam os filhos a ter responsabilidade? Não ensinam porque não aprenderam. Estes pais querem ser amigos dos filhos e isso não faz sentido. Provedor não é amigo.

Por que o pai não pode ser só amigo ou só provedor? Não pode ser amigo porque pai não é uma função
que se escolhe, e amigos você pode escolher. O filho é filho do pai e tem que honrar os compromissos
estabelecidos com ele. Um filho não pode trocar de pai assim como troca de amigo, por exemplo. Por
outro lado, o pai que é unicamente provedor, como eram os de antigamente, também não dá uma
educação saudável ao filho, afinal ele apenas dá e não cobra. Pai não pode dar tudo e não controlar a vida
do filho. Quando digo controle, quero dizer que o pai deve fazer com que o filho corresponda às
expectativas, que o filho faça o que precisa ser feito. Um filho não pode deixar de escovar os dentes ou de
estudar e o pai não pode deixar isso passar.

Amor e educação combinam com disciplina? Disciplina é a coisa que mais combina com a educação. É uma
competência que você desenvolve para atingir o objetivo que quer. Se você ama alguém, tem que ter
disciplina. Os pais precisam fazer com que os filhos entendam que eles têm que cumprir sua parte e
usufruir o amor.

Como exigir sem agressividade? O exigir é muito mais acompanhar os limites, aquilo que o filho é capaz de
fazer. Não dá para exigir que ele vá pendurar roupas no armário se ele não pode arrumar uma gaveta. Por
outro lado, os pais não podem fazer pelos filhos o que eles são capazes de fazer sozinhos. A partir daí,
quando se cria uma segurança, a exigência começa a fazer parte da convivência. Essa exigência é boa. O pai
não pode ser apenas provedor financeiro. Há de se exigir um retorno, que é saudável para o filho, que o
frustra, mas faz crescer.

O senhor diz que todos somos educadores. Como podemos nos portar para educar direito as outras
pessoas? Você quer educar? Seja educado. E ser educado não é falar “licença” e “obrigado”. Ser educado
é ser ético, progressivo, competente e feliz.