Falando sobre limites com Cesar Ibrahin

Falando sobre limites com Cesar Ibrahin

É na educação dos filhos que se revelam as virtudes dos pais.
Coelho Neto

A educação, os cuidados e a atenção que uma criança recebe até os cinco anos de idade terão um efeito decisivo sobre seu futuro. Essa afirmativa é do psicanalista Cesar Ibrahin que completa dizendo que o amor, o afeto, o diálogo dos pais não são elementos suficientemente capazes de dar conta da constituição de seres humanos saudáveis nos tempos modernos.

“Não basta amar nossos filhos, provê-los de todo conforto, dar boa alimentação, educação e valores
morais, colocá-los em escolas de excelência, para que tudo dê certo. Isso não é suficiente para que eles tenham uma vida adulta saudável e se desenvolvam emocionalmente de modo satisfatório. O grande pilar da educação bem sucedida e da construção da lucidez, está na capacidade de desenvolver a renúncia a prazeres imediatos. Para isso a criança precisa ser contrariada, precisa ter limites”, explica Ibrahin.

Limite é uma palavra que tem, muitas vezes, uma conotação negativa, ligada à repressão, proibição,
interdição. No entanto, limite é algo muito além disso: significa a criação de um espaço protegido dentro do qual a criança poderá exercer sua espontaneidade e criatividade sem receios e riscos. O limite é, fundamentalmente, contato, presença e proteção por um lado e, por outro, a apresentação progressiva da realidade através das inevitáveis e necessárias frustrações.

É necessário enfatizar que os filhos pedem limite e que isso os ajuda a organizar seu raciocínio. A falta de limites na infância é consequência, em maior ou menor grau, de dificuldades dos adultos, pois nenhuma criança nasce com a noção de limite. Os pais, às vezes, não o colocam por comodidade, pois impor limites significa conter a criança, suportar suas reclamações, choros e protestos, enfim, enfrentar dificuldades.

Por outro lado, os pais de hoje trabalham mais e passam menos tempo com os filhos, em comparação a gerações anteriores. A mãe, que antes ficava mais tempo em casa e transmitia valores, agora busca novos espaços e trabalha fora. Em decorrência disso, grande parte das crianças é criada por babás, avós, e os pais, para compensarem a falta na vida diária da criança, façam todas as suas vontades e comprem tudo para elas. Outra situação bastante comum é quando chegam do trabalho, ambos estão cheios de culpa pela ausência e, para minimizar esse sentimento, tornam-se muito permissivos. Por trás disso, há uma grande insegurança na forma de educar e, consequentemente, não conseguem dizer não aos filhos. Alguns pais se tornam tolerantes demais, alegando que o tempo é escasso e que preferem curtir os filhos em vez de fazer exigências. Esquecem que esse tempo de envolvimento e convivência é precioso para a formação dos filhos. Nessas poucas horas disponíveis, é preciso ter postura, mostrar com exemplos e atitudes o que é certo e errado.

O que ressalta Cesar Ibrahim

Cesar Ibrahim ressalta que os pais precisam assumir o seu lugar de autoridade. Segundo ele, autoridade não pode pedir licença para ser exercida. A criança, para crescer saudável, precisa aprender a conviver em grupo, socializar e aceitar as regras que os pais determinam: ter hora para dormir, para brincar, para comer, para estudar, de usar o computador etc. E complementa: “Gostaríamos que nossos filhos fossem blindados para que as dores do mundo não os atingissem. Entretanto, a construção da saúde mental dos nossos filhos passa irremediavelmente pela necessidade imperiosa de contrariá-los”.

O psicanalista deixou claro que não existem receitas, pois as características familiares e individuais divergem de um contexto para outro. Deve prevalecer o bom senso. As frustrações e
gratificações devem estar em equilíbrio.

“Se não plantar, não vai colher. A tarefa de educar é repetitiva, recorrente, cansativa, mas que não há alternativa senão estabelecer uma relação de contenção aos filhos de modo que eles possam avançar na direção do mundo real de uma maneira cada vez mais autônoma”.

A travessia da privação começa na infância. Os pais devem exercer a autoridade e colocar limites desde o começo. Limites coerentes, é claro, nos momentos certos e bem dosados, sempre exercitando o equilíbrio entre a liberdade e a responsabilidade.

Adaptação do texto de Paulo Wagner sobre a palestra Falando sobre Limites, com Cesar Ibrahin
Fonte: Folha Carioca

Cesar Ibrahin